O racismo é uma ferida aberta no corpo social brasileiro. A discriminação é notável no setor empresarial, e é hora de fazer algo.
As empresas devem ter outros indicadores de crescimento que possam ir além dos recordes econômicos e de produtividade. Participar de demandas próprias da sociedade é um exemplo, como combater o racismo.
O racismo é uma ferida aberta no corpo social brasileiro, é algo que nos deveria envergonhar profundamente, mas que, infelizmente, tem sido alvo do negacionismo nos últimos anos.
“Somos todos iguais”, dizem algumas pessoas que gostam de afirmar que o racismo não existe; mas que, no entanto, muitas vezes trabalham em empresas que não têm sequer um funcionário negro. Contraditório, não acha?
Em primeiro plano, antes de falar sobre como combater o racismo no ambiente empresarial, vamos apresentar rapidamente alguns dados que devem servir para nos alertar sobre a situação.
Estatísticas que comprovam o racismo estrutural
Tomamos como fonte para este artigo, o Pequeno manual antirracista de autoria de Djamila Ribeiro, filósofa e escritora brasileira. O livro, publicado no fim de 2019, foi um sucesso de vendas no ano passado.
Djamila consegue – de modo genial, diríamos – apresentar, em relativamente poucas páginas, algumas pistas para entender a discriminação racial como algo estrutural na sociedade, além – e esse ponto é fundamental – de propor caminhos para que assumamos a responsabilidade para transformar essa realidade.
Para começar, consideremos alguns dados alarmantes que a autora apresenta no manual:
“Uma pesquisa do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert)—organização indispensável para a luta antirracista, criada por Cida Bento, em 1990—, em parceria com a Aliança Jurídica pela Equidade Racial, apontou que pessoas negras não somam 1% entre advogados e sócios de escritórios de advocacia.”
A seguir, a filósofa indica que “entre estagiários, não chega a 10%. O estudo, de 2019, ouviu 3624 pessoas em nove das maiores bancas de São Paulo e demonstra como os números refletem a necessidade de discutir desigualdades, oportunidades e diversidade no mercado de trabalho”.
Além do trabalho de Djamila, tivemos acesso a uma pesquisa do Instituto Ethos – que trabalha com empresas sobre temas de responsabilidade social – que indicou que apenas 5% de pessoas negras trabalham como executivos de 117 grandes empresas.
Como notamos, a questão é séria e o setor de negócios do Brasil deve ser agente de transformação, adicionando a seus projetos meios para combater o racismo.
Além das razões relacionadas à responsabilidade social, lutar contra esse câncer na sociedade é também uma forma de descobrir novos talentos que, por causa do racismo, acabam não sendo valorizados.
“Quantos talentos o Brasil perde todos os dias por causa do racismo?”, pergunta Djamila, que logo enfatiza a condição ainda mais absurda que sofrem as mulheres negras: “A situação é ainda mais grave para mulheres negras, que são muitas vezes destinadas ao subemprego: quantas físicas, biólogas, juízas, sociólogas etc. estamos perdendo?”
A filósofa especialista em temas sociais e em negritude apresenta um horizonte para começar a solucionar o problema: “Políticas que obrigam as empresas a pensar e criar ações antirracistas poderiam reverter esse quadro”.
Uma questão legal
O Pequeno manual antirracista enfatiza ainda que, “no Brasil, a Lei de Cotas para o Serviço Público Federal visa diminuir desigualdades. Declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal em 2017, ficou estipulado que:
‘A desequiparação promovida pela política de ação afirmativa em questão está em consonância com o princípio da isonomia. Ela se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira, e garantir a igualdade material entre os cidadãos, por meio da distribuição mais equitativa de bens sociais e da promoção do reconhecimento da população afrodescendente’”.
Como vemos, combater o racismo no Serviço Público Federal já é algo inclusive amparado por lei; no entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
É evidente que o tema deve ser tratado já, e que não basta apenas constatar a realidade dessa ferida social. Por isso, passamos agora a indicar algumas formas para combater o racismo em sua empresa.
Como combater o racismo em sua empresa
Vamos agora considerar algumas indicações práticas para dar passos concretos a fim de combater o racismo.
1. Diálogo aberto, sério e respeitoso no interior das organizações sobre o tema;
2. Combater com dureza atos racistas e discriminação: é inaceitável que funcionários façam piadas racistas ou tenham comportamentos ainda mais graves, como rejeitar a presença de companheiros negros. O racismo ainda deve ser eliminado em atitudes que visam restringir a expressividade da cultura negra. Ainda ocorre, por exemplo, que funcionárias negras sejam pressionadas a alisar os cabelos. Isso é racismo e é inaceitável em qualquer empresa;
3. Eliminação do racismo velado, geralmente presente em barreiras que dificultam a ascensão de pessoas negras a cargos de gerência;
4. Tomada de medidas de proporcionalidade, considerando a necessidade de dar oportunidades a mais negros nos próximos processos de contratação;
5. Investimento em marketing para difusão de campanhas antirracismo, e que publicitem medidas reais tomadas pela empresa para combatê-lo;
6. Maior consideração da população negra na hora de elaborar o público alvo de produtos e serviços.
Conclusão
Embora negado por muitas pessoas – por má-fé ou desconhecimento – o racismo é uma ferida que continua sangrando no corpo social brasileiro.
A questão é vista, entre outras coisas, pela falta de inclusão de pessoas negras no mercado de trabalho, sendo que a causa se agrava ainda mais quando considerados os vergonhosos números de negros ocupando cargos administrativos.
Não é possível falar do tema sem considerar ainda o duplo problema que enfrentam as mulheres negras que, além de sofrerem discriminação por serem mulheres, são inferiorizadas pela cor.
Como visto, é evidente que algo precisa ser feito e que as empresas podem ser agentes de mudança sempre e quando começam a fazer o seu dever de casa.
Medidas como a inflexibilidade ante atos racistas e a eliminação de quaisquer formas de discriminação são um começo. Mas, ainda assim é insuficiente.
As empresas devem adotar programas de contratação de profissionais negros e caminhar em direção a uma real política de proporcionalidade.
Nesse caminho, também os negócios surgidos há pouco devem se posicionar.
Se você chegou até aqui, já adquiriu um pouco mais de conhecimento sobre a discriminação racial no nosso país e já sabe algumas estratégias que pode pôr em prática para estar na linha de frente ao combate ao racismo no setor empresarial.
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